terça-feira, 26 de maio de 2009

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Entrevista com a atriz Carolina Fauquemont

Carolina Fauquemont iniciou no teatro aos quinze anos. Alguns anos depois ingressou na FAP - Faculdade de Artes do Paraná - onde se formou em Artes Cênicas com Habilitação em Interpretação. De 2001 a 2004 fez parte dos estudos e pesquisas do ACT - Ateliê de Criação Teatral, em Curitiba.
Em 2004 dirigida por Marcio Abreu e sob a coordenação de Luis Melo, Fauquemont participou de várias mostras de processo - ACT Abre Suas Portas - em cenas e leituras dramáticas dos textos de Tchekhov.
Em 2006, Carolina ingressou na companhia de teatro Vigor Mortis e com a peça Graphic faz temporadas em Curitiba, Rio de Janeiro e São Paulo. Já em São Paulo(2008) ela atuou em Tape, peça dirigida por Mário Bortolotto.
De 2002 a 2008, Fauquemont atuou em dez curtas-metragens realizados em Curitiba e Rio de Janeiro. No Rio (2006) fez a oficina de interpretação para cinema da Video Fundição com Walter Lima Jr e em 2003 a oficina de atores da Globo no Projac.
Há pouco tempo, Carolina atuou em dois longas realizados em Curitiba: Morgue Story - Sangue, Baiacu e Quadrinhos, de Paulo Biscaia Filho e Cia Vigor Mortis; e o presente Eva de Arnaldo Belotto.
Atualmente a atriz mora em São Paulo, onde em breve participará de dois curtas e um novo longa -metragem.

1- Como você falou, várias vezes durante os gravações, mais uma vez a morte está relacionada com o seu personagem. Qual foi sua motivação, desta vez, para participar do EVA, afinal no filme você tem poucas falas e passa a maior parte dele inerte?

Eu li a sinopse e adorei. Lembrei de uma história que li há um tempo e relacionei à idéia do filme.
Achei que o filme traria uma metáfora importante. Pra mim, o filme “Eva” fala pra todo mundo que se relaciona, para todo mundo que encara o seu universo e o divide (ou muito, ou pouco) com o universo de uma outra pessoa. O filme traz o nome de Eva (que pelo mito é mãe de todos os homens e mulheres), e isso pode e deve gerar outro tipo de questionamento, o que torna, na minha opinião, o filme mais interessante. Vejo nesse filme a possibilidade de reflexão à respeito da responsabilidade que temos perante a vida.
Pensei: Quero ajudar a contar essa história! Reflito ainda sobre ela e vejo muitos dos nossos padrões, apegos e medos. Muitas vezes carregamos pesos inúteis, carregamos o outro nas costas e às vezes esse outro é alguém que já foi embora há muito tempo e que cismamos em continuar carregando. Temos dificuldade de “morrer” e de lidar com a morte. E a morte não é só a morte do fim da vida, mas as mortes que nos fazem amadurecer, evoluir, os fins e inícios pelos quais passamos e que nos constituem. É importante morrer, encarar as transformações. A vida é feita de ciclos e nesse movimento existe uma grande lição de força e sabedoria.
Foi um convite de um amigo também. Conhecia o Arnaldo e o trabalho dele. Fiquei feliz de saber (foi pelo msn) que ele faria um longa independente. Eu admiro muito as pessoas que desenvolvem suas ideias, dão vida aos seus projetos. Curitiba precisa de pessoas que acreditem que não é impossível! Eu sempre participei de curtas metragens independentes em Curitiba. Poucas vezes consegui dizer não. Essa arte me pega! Dessa vez não poderia ter sido diferente.
O fato de não ter falas não torna esse papel menos importante do que qualquer outro que eu já encarei no cinema. A personagem estava inerte, não a atriz. Eu aprendi muito nesse filme. Cada cena que fiz me mostrou algo desconhecido. Ou sobre o cinema, ou sobre mim, os outros, ou sobre a própria vida.

2- Como é atuar “morta”? Quais foram as dificuldades encontradas no papel?

Um dos meus mestres de teatro dizia que a personagem a gente encontra pela respiração. Nesse sentido Eva é a ausência de uma personagem. E é também mais do que isso. Ela pode ter sido qualquer mulher, agora ela é apenas um corpo. Ela não pensa mais, não sente, está entregue à gravidade e à terra.
Eva, a personagem, só existe na cabeça de Albert, que a conheceu. Passa a ser uma lembrança do que foi. Para o espectador ela pode ser qualquer mulher, ela pode ser um símbolo. A minha dificuldade não foi quanto à elaboração dessa vida que teve Eva anteriormente, isso não era importante pra mim em cena. O meu trabalho era observar o meu próprio corpo e tentar deixá-lo o mais inerte possível, o mais entregue possível.
Ficar sem respirar é impossível e respirar pouco é difícil, o diafragma se movimenta sozinho, mesmo que eu não queira. As veias saltavam no meu pescoço, eu conseguia ver nos meus pés, que deveriam ficar imóveis, as batidas do meu coração. Algumas coisas fogem do nosso controle. O instinto de sobrevivência é forte. A vida no meu corpo é forte.
Eva me fez reconhecer essa vida. A vida que existe em mim. É um tanto paradoxal, mas para me entregar ao papel da morta eu tive que encarar a vida que pulsa em mim, reconhecer essa força e entender que a transformação do “ser” para o “não ser” inspira beleza, mas também dor e muita luta. A vida e a morte não se separam, uma está contida na outra.
Escrevi no blog que foi difícil fazer uma morta porque o filme estava me enchendo de vida. É isso. Foi um processo intenso pra mim, foi um início de ano intenso, os aprendizados romperam a fronteira do cinema (da arte) e vieram dar de encontro com a minha própria vida. A vida de Carolina. “Pessoal e intransferível”.

3- O que é, ou quem é Eva para você?

Eva sou eu à medida que fui eu quem a interpretou. Eva é o personagem de Albert, já que ele é a única testemunha pra nós de quem ela foi. Eva é a mulher que poderia gerar, que poderia viver, mas que adormece, que se entrega à outra vida, que nega seu nome, que abandona esse mundo e esse homem, que busca a transcendência, que volta ao mar, ao ventre, à terra. Eva é tudo aquilo que o espectador conseguir ver. Escrevi uma carta de Eva para Albert depois de uma conversa com o ator do filme, o Bruno. É mais ou menos assim que a vejo: Para Albert / De Eva