quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Para Albert / De Eva

Albert.

Sou apenas um momento.
Um “frame”
(imagem congelada).
Uma fotografia.
Sou apenas uma lembrança
(em alguns anos vou viver dentro da história de um senhor que não foi feliz, porque “ser feliz” para um homem – ou para uma mulher – é querer muito).
Sou aquilo que você quer que eu seja
(para que não sofra tanto).
E quando chegar o momento eu simplesmente desapareço
(para que você não sofra a vida inteira).
Porque é impossível alcançarmos um ao outro.
É impossível sermos completos um com o outro
(vivemos em corpos diferentes, em mundos diferentes, somos revestidos de uma película frágil – que se chama pele, que se chama realidade, que se chama vida).
Em mim vai sempre faltar o seu sorriso.
Seu olhar está fora de mim.
E o seu gesto não é o meu.

Eu não sou capaz de olhar (sozinha) o mar.
Meus olhos não bastam para ver
(e eu não posso contar com os seus).
Sou apenas uma mulher
(é difícil entender as imensidões de um ponto de vista tão singular – como o amor que sob efeito do tempo é ironia compreender).
Quero libertar os sentimentos da minha dor.
Meu vazio ao seu lado me devora.
Meu silêncio ao seu lado é grito.
Eu escolho anular o efeito do tempo
(a violência da velocidade de todas as coisas).
Sobre mim, sobre você. Sobre nós dois.
Olho nos seus olhos e adoeço com a grandeza que temos sem saber, sem acreditar.
Daqui. Da onde me encontro.
Não é possível mergulhar nesse mar e viver.

Da sua
Nem tão sua
Nem tão minha
Nem de mais ninguém
Além de tudo
E nada

Eva.


(Carolina Fauquemont)

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